Ontem eu comi uma ostra, uma ostra feita de açafrão.
Vermelho.
Feito sangue mensal de mulher. Fiquei voando, assim. Depois fui andar pertinho do rio, tinha borboletas. Uma era azul com as asas flamejantes. Riscava o céu e deixava um rastro de fumaça atrás dela. O seu rabo, pequena chama laranja, caiu em meu chapéu e eu acendi o meu cigarro. Ah sim, meu cigarro tem nome. Ele se chama Sinhôran.
Sinhôran vive na minha boca a me suscitar bobagens, blasfêmias, batuques e saliva amarga que eu gosto de engolir. Mas eu só gosto de engolir saliva amarga, as blafêmias, eu engulo para que não pularem para o resto do mundo e se transformarem em fiapo de brasa doida em mato verde.
Eu adoro um mato verde e adoro Sinhôran.
De madrugada, depois do passeio perto do rio, eu sentei no alto de uma ribanceira e estava como que a um palmo do céu - ainda bem que não era de manhã, o sol me faria suar demais. Sentia um fedor enorme. Uma nuvem tenebrosa e pálida se esfregou em mim, um silêncio chato e grande demais tomou conta da ribanceira inteira, estranhei. Meu corpo tremeu. De repente, sair rolando ribanceira a baixo e meu cavalo me levou para tomar um banho, estava precisando. Aprendi. Não tem necessidade, só perigo, me aproximar tanto do céu.
Amanhã vou viajar. Vou de carro de boi. Carro de boi tem forma de dragão.
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
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