Era uma vez um menino pretinho chamado Guirigó. Não se satisfazia com pouca arte, com Guirigó tudo era demais. Um demônio diziam uns, um amaldiçoado diziam outros, tanto que por fim todos concordaram que não importando se Guirigó tinha parte com o mal ou se era ele o próprio mal, botaram um padre pra benzer a testa do garoto. Aquilo deve ter dado certo por volta de uns...20 segundos. No final da benzedeira o padre saiu foi se benzendo, com medo daquela capetagem toda passar por toque de pele. O que aconteceu foi que, como menino que era, Gurigó achou graça de ver homem de saia e levantou a batina do padre enquanto rezava alguma ave Maria. Problema pequeno perto do que Guirigó levantou mesmo: era que o padre era bem da moda antiga, não usava nada por baixo. E é claro que no quarto só estavam as beatas que iam para onde homem de batina fosse.
Nesse dia, Guirigó, que andava meio odiado por quase todo mundo, até que voltou a ser bem tratado. Era que a mais última que ele aprontou tava fazendo a vizinhança rir horrores, e Guirigó bem que tinha alguma prática pra contar um conto. E dizia:
- Na hora que todo mundo rezava “bendito sois vos entre as mulheres” as beatas acabaram quase conseguindo o que mais queriam!
- E por que não viram, menino?
-Por que o padre tem a hóstia bem escondida!
E o toque da risada geral era proclamado por quem estivesse em volta do pretinho. Era bem querido o moleque, mas com ele não tinha um que não mantinha os dois olhos atentos. Certamente porque todos já tinham sido vítimas da criatividade sem fim de menino pobre e órfão. Guirigó nem tinha família. Era meio criado daqui, dali. Foi por um bom tempo ajudado pelas beatas, depois não foi mais. Do pessoal que sustentava ele, existia era mais pena do que carinho mesmo. Até porque, era assim que se exigia uma relação com ele. Quem ali teria carinho por alguém que não passava da cozinha de sua casa; Que era de rua? O mais econômico era ter pena mesmo, carinho se dá pra quem tem mais.
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