quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009
Morno lodo. Céu azul e aves deslizando. Guirigó caminha para debaixo de uma árvore, recolhe a sombra para si e dorme, acorda atônito em meio à multidão, uma procissão o despedaça. São Sebastião ou São João Batista? São Judas Tadeu. Vira o rosto e vê o passarinho. Sabiá. Olha pra mão e tem estilingue - alguém bate em sua cabeça e pensa: estilingue não. Agora tem um alçapão e uma corda. Precisa de chamariz, algum inseto? Alguma fruta, algum grão? Coça a cabeça por uns segundos. Agora se vê de calça e blusa passada, de botão. Fila de banco? Fila de emprego? Um peso repentino e eterno lhe toma o corpo. Tem um espelho e se vê. Guirigó sem barba e sem camisa apanha de um empregado da venda. Um pote caído no chão já dizia tudo. Pega o pote e coloca no lugar, em seguida cai doente em uma cama e uma mulher cuida de sua vida, um primeiro, único, último amor, uma doença que cura, uma cura que se mistura. Curanda e curado na mesma cama da doença. Uma doença como a gravidez. Um filho preto e um fio de barba e a dita fila. Guirigó olha pra frente, um padre lhe faz o sinal da cruz e oferece a hóstia - aquele padre. Aquela igreja, aquele lugar. Guirigó homem casado e com filho. Guirigó o menino preto que encapetava a cidade. Guirigó é demais, Guirigó é demais, Guirigó não merecia tanta coisa. Nem as boas nem as ruins. No jornal, dentro de casa. É demais, Guirigó, não vai dar conta. Guirigó jogador, Guirigó pivetinho, que diferenças faz? Guirigó vai para o puteiro, aprende a comer as menininhas, Guirigó não sabe a diferença entre prazer e dor, tristeza e alegria. Guirigó recebe as coisas com demasiada sabedoria? Guirigó é a tua própria vida apenas com certa força na alegoria.
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